quinta-feira, 2 de outubro de 2014

EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS COMO ESPAÇO DE EXPERIMENTAÇÃO

Professor Felipe Bandoni de Oliveira com seus alunos do Colégio Santa Cruz. Crédito: Marina Piedade
Disponível: http://revistaescola.abril.com.br/blogs/eja/
Participei de um evento há duas semanas sobre a EJA no Encontro Nacional de Ensino de Biologia (ENEBIO). Dificilmente acontecem discussões sobre Educação de Jovens e Adultos nos congressos gerais sobre Educação, por isso achei muito interessante a iniciativa da comissão que organizou o evento.
O foco da discussão foi o currículo da EJA, justamente o assunto que ocupou o espaço deste blog em posts recentes. Participei de uma mesa com a professora Graziela del Mônaco, que defendeu neste ano sua tese de doutorado sobre os conteúdos de Ciências no currículo da Educação de Jovens e Adultos
Fiquei surpreso ao ver que na sala havia cerca de trinta pessoas. Achei que a EJA não despertaria interesse em um congresso sobre Ensino de Biologia, mas estava enganado: além dos debatedores, tivemos grande contribuição dos professores presentes.
A questão que permeou toda a discussão foi: o que ensinar para jovens e adultos?
Obviamente, não chegamos a uma resposta definitiva, mas muitas reflexões interessantes apareceram pelo caminho.
Em primeiro lugar, percebi que muitos dos professores estavam angustiados com o currículoque atualmente praticam na EJA. Não veem relevância no que ensinam, notam que os alunos não enxergam as relações entre os conteúdos e a realidade fora da escola, sentem-se pressionados a cumprir o mesmo que fazem no ensino regular… Enfim, enxerguei neles asinquietações que descrevi há pouco tempo.
Embora o foco tenha sido a Biologia, os participantes confirmaram que nas outras áreas a situação é a mesma. Isso nos leva a pensar que, de maneira geral, existe um descontentamento com o currículo que praticamos hoje na EJA.
Por outro lado, ouvimos vários depoimentos atestando que, na realidade, há menos pressão sobre a EJA do que sobre o ensino regular: foram citadas como exemplo as escolas que têm como objetivo principal preparar os alunos para vestibulares, bem como outras em que os pais cobram o ensino de certos conteúdos a seus filhos. Na EJA, raramente existe esse tipo de pressão.
Apesar disso, nós professores nos amarramos demasiadamente aos livros didáticos e a conteúdos supostamente “obrigatórios”, o que acaba nos afastando dos temas realmente importantes para os alunos. Por que fazemos isso? É claro que não podemos ensinar simplesmente porque “nos deu na telha”, mas será que não seria a situação certa para inserir aqueles conteúdos que sabemos ser importantes e motivadores? Talvez na EJA tenhamos a oportunidade de ouro de trabalhar sem amarras e focarmos no que realmente interessa a eles…
Surgiu a ideia de que a EJA é um espaço privilegiado para a experimentação. Talvez seja a modalidade de ensino em que se pode abordar aquele conteúdo que você sempre considerou importante, mas que nunca pode trabalhar porque “não está no livro” ou porque “não se costuma ensinar”. Talvez a EJA, com seus alunos desafiadores, seja o balão de ensaio ideal para tornar o ensino mais interessante, tanto em termos dos assuntos a serem ensinados como da abordagem para ensinar.
Neste blog já citei alguns exemplos que se encaixariam nisto que estou chamando de “experimentais”, no melhor sentido da palavra: o trabalho “Infãncia na Roça” da professora Paula Takadao trabalho com blogs da professora Mariana Luz, além do trabalho que fiz com meus alunos sobre a Lua.
O que você, professor da EJA, pensa disso? Será mesmo que a EJA é um ambiente propício para repensarmos nossa forma de ensinar? Será que é possível experimentar novos conteúdos e novas maneiras de ensiná-los?