sexta-feira, 31 de outubro de 2014

ENCCEJA: oportunidade para a certificação na EJA

 | avaliaçãopolíticas públicas
Crédito: Shutterstock / montagem
Todos nós sabemos das dificuldades que os alunos da Educação de Jovens e Adultos enfrentam para frequentar as aulas presencialmente. A exigência do trabalho, a distância entre a casa onde moram e a escola, as obrigações com a família, o cansaço da rotina diária, todos esses fatores são obstáculos que fazem com que muitos não consigam concluir os estudos.
Ao mesmo tempo, possuir o Ensino Fundamental completo tornou-se uma exigência básica no mercado de trabalho e isso faz com que diversas pessoas procurem a EJA para conseguir um diploma rapidamente. Grande parte delas têm poucos anos de escolaridade (ou nenhum) e lacunas graves na formação escolar, o que exige vários anos de estudo para serem preenchidas.
No entanto, nem todos os estudantes precisam dessa mesma atenção. Em minha experiência como professor, encontrei alunos que, embora não tivessem o diploma, detinham conhecimentos compatíveis com o Ensino Fundamental e suficientes para ingressarem no Ensino Médio. Alguns deles tinham cursado essa etapa de ensino, mas não possuíam qualquer comprovante ou histórico escolar. Outros passaram pouco tempo na escola, porém possuíam uma história de vida (no trabalho e em situações de ensino informal) que permitiu com que desenvolvessem habilidades normalmente adquiridas dentro da sala de aula. Também me deparei com alunos ligeiros, que aprendiam num ritmo mais veloz que os demais, portanto não teriam problema em pular fases.
Acredito que poder ficar mais tempo na escola possa beneficiá-los, porém, o fato de o diploma do Ensino Fundamental ser uma exigência prática para progredir no trabalho e até para evitar uma demissão faz com que seja preciso acelerar o processo de certificação.
Para quem tem esse perfil, a melhor alternativa pode ser o Exame Nacional de Certificação de Competências (ENCCEJA). Organizado anualmente pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), ele é voltado a jovens e adultos que não tiveram oportunidade de concluir os estudos na idade apropriada.

Para o Ensino Fundamental, o interessado precisa ter ao menos 15 anos na data de realização do exame, que em sua edição mais recente foi composto de quatro provas, com 30 questões de múltipla escolha cada, e uma redação. As áreas avaliadas são: Língua Portuguesa, Língua Estrangeira Moderna, Educação Física, Artes Matemática, História, Geografia e Ciências Naturais.
O ENCCEJA não tem uma data fixa e é preciso estar atento ao calendário divulgado no site do Inep para saber quando serão as inscrições – que podem ser feitas na própria página – e a aplicação do exame. Neste ano, as datas foram março e junho, respectivamente.
Mesmo que nenhum de seus alunos realize o exame, as provas podem servir de material de estudo interessante. Provas de alguns anos anteriores estão disponíveis na internet.

PRIMEIROS SOCORROS: Conhecimentos importantes



Primeiros socorros: conteúdo importante
Aprender sobre como prestar assistência é algo importante na EJA, pois os estudantes passam por esse tipo de situações no trabalho, em casa ou em seus deslocamentos diários. Falar sobre como proceder nessas circunstâncias pode até mesmo ajudar a salvar vidas. Daí a importância de promover atividades como essa.
Não se trata de capacitar a turma a ser socorrista (o que seria impossível no tempo exíguo da EJA), mas sim de uma aula para informar sobre o que é adequado fazer ou não em cada situação. Uma maneira interessante de iniciar a discussão é pedir que os alunos relatem situações que já viveram e como se comportaram. Assim, com base nas experiências deles, pode-se discutir se a atitude tomada foi a mais correta, se poderia ser melhorada e se existem outras possibilidades. É preciso tomar o cuidado para que o tom não seja de repreensão, mas sim de entendimento e de análise da situação vivida em cada momento.
Alguns exemplos que já apareceram nessas aulas e de como encaminhamos a discussão:
“Uma vez queimei a mão em uma panela quente e imediatamente a pele formou bolhas”: a aluna relatou que isso aconteceu quando vivia em local isolado na zona rural e que a providência que sua mãe tomou foi passar gema de ovo sobre a pele queimada, o que aliviou a dor. Segundo ela, esse é um remédio caseiro muito usado na região onde cresceu. A médica explicou que a formação de bolhas é um sinal de queimadura de segundo grau e o alívio tem a ver com o resfriamento da pele queimada. No entanto, ela frisou que a gema pode gerar infecção na pele desprotegida; o mesmo efeito seria conseguido com água fria corrente, o que seria mais indicado. Não se recomenda usar pasta de dente, borra de café ou manteiga.
Um colega de trabalho levou um choque elétrico ao trocar uma lâmpada defeituosa: o estudante contou que ficou apavorado ao ver que o amigo estava grudado aos fios. Sua reação foi chutar a escada de madeira que o apoiava. Felizmente, a vítima não se machucou na queda e o problema foi resolvido. Sem recriminar o aluno que agiu numa situação de pânico, a médica ressaltou que a queda poderia ter consequências graves e que o mais adequado seria afastar os fios com um material não condutor, como um cabo de vassoura. Idealmente, deve-se tomar o cuidado de desligar a chave-geral ao realizar reparos ou, pelo menos, certificar-se sobre onde ela está.
Um menino teve uma convulsão no ônibus em que eu estavao estudante contou que as pessoas ao redor tiveram reações ambíguas. Enquanto alguns tentavam segurar o garoto, outros evitavam encostar nele por medo de “pegar” a doença. A médica esclareceu que o procedimento indicado é tentar deitar o paciente de lado, remover objetos ao redor que possam machucá-lo, proteger sua cabeça sem tentar segurá-la e não introduzir nenhum objeto na boca. Deve-se encaminhar o paciente a um serviço de saúde após a convulsão.
Esses foram apenas alguns dos exemplos que apareceram na discussão. A partir de narrativas como essas, pudemos conversar sobre situações que nossos alunos comumente enfrentam e como podem proceder.
Caso você não consiga convidar especialistas para ir à escola, sugiro que consulte sites ou livros que tragam informações sobre o assunto. O site do médico Drauzio Varella, por exemplo, aborda muitas dessas situações.



quinta-feira, 2 de outubro de 2014

EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS COMO ESPAÇO DE EXPERIMENTAÇÃO

Professor Felipe Bandoni de Oliveira com seus alunos do Colégio Santa Cruz. Crédito: Marina Piedade
Disponível: http://revistaescola.abril.com.br/blogs/eja/
Participei de um evento há duas semanas sobre a EJA no Encontro Nacional de Ensino de Biologia (ENEBIO). Dificilmente acontecem discussões sobre Educação de Jovens e Adultos nos congressos gerais sobre Educação, por isso achei muito interessante a iniciativa da comissão que organizou o evento.
O foco da discussão foi o currículo da EJA, justamente o assunto que ocupou o espaço deste blog em posts recentes. Participei de uma mesa com a professora Graziela del Mônaco, que defendeu neste ano sua tese de doutorado sobre os conteúdos de Ciências no currículo da Educação de Jovens e Adultos
Fiquei surpreso ao ver que na sala havia cerca de trinta pessoas. Achei que a EJA não despertaria interesse em um congresso sobre Ensino de Biologia, mas estava enganado: além dos debatedores, tivemos grande contribuição dos professores presentes.
A questão que permeou toda a discussão foi: o que ensinar para jovens e adultos?
Obviamente, não chegamos a uma resposta definitiva, mas muitas reflexões interessantes apareceram pelo caminho.
Em primeiro lugar, percebi que muitos dos professores estavam angustiados com o currículoque atualmente praticam na EJA. Não veem relevância no que ensinam, notam que os alunos não enxergam as relações entre os conteúdos e a realidade fora da escola, sentem-se pressionados a cumprir o mesmo que fazem no ensino regular… Enfim, enxerguei neles asinquietações que descrevi há pouco tempo.
Embora o foco tenha sido a Biologia, os participantes confirmaram que nas outras áreas a situação é a mesma. Isso nos leva a pensar que, de maneira geral, existe um descontentamento com o currículo que praticamos hoje na EJA.
Por outro lado, ouvimos vários depoimentos atestando que, na realidade, há menos pressão sobre a EJA do que sobre o ensino regular: foram citadas como exemplo as escolas que têm como objetivo principal preparar os alunos para vestibulares, bem como outras em que os pais cobram o ensino de certos conteúdos a seus filhos. Na EJA, raramente existe esse tipo de pressão.
Apesar disso, nós professores nos amarramos demasiadamente aos livros didáticos e a conteúdos supostamente “obrigatórios”, o que acaba nos afastando dos temas realmente importantes para os alunos. Por que fazemos isso? É claro que não podemos ensinar simplesmente porque “nos deu na telha”, mas será que não seria a situação certa para inserir aqueles conteúdos que sabemos ser importantes e motivadores? Talvez na EJA tenhamos a oportunidade de ouro de trabalhar sem amarras e focarmos no que realmente interessa a eles…
Surgiu a ideia de que a EJA é um espaço privilegiado para a experimentação. Talvez seja a modalidade de ensino em que se pode abordar aquele conteúdo que você sempre considerou importante, mas que nunca pode trabalhar porque “não está no livro” ou porque “não se costuma ensinar”. Talvez a EJA, com seus alunos desafiadores, seja o balão de ensaio ideal para tornar o ensino mais interessante, tanto em termos dos assuntos a serem ensinados como da abordagem para ensinar.
Neste blog já citei alguns exemplos que se encaixariam nisto que estou chamando de “experimentais”, no melhor sentido da palavra: o trabalho “Infãncia na Roça” da professora Paula Takadao trabalho com blogs da professora Mariana Luz, além do trabalho que fiz com meus alunos sobre a Lua.
O que você, professor da EJA, pensa disso? Será mesmo que a EJA é um ambiente propício para repensarmos nossa forma de ensinar? Será que é possível experimentar novos conteúdos e novas maneiras de ensiná-los?