domingo, 10 de agosto de 2014

PROJETO BRINQUEDOTECA NA EJA - SECRETÁRIA DE EDUCAÇÃO RECEBE PRÊMIO "Gestor Nota 10"

Disponível: educaseropedica.rj.gov.br/secretaria/informativo/secretaria-de-educacao-recebe-premio-"gestor-nota-10"




"INFÂNCIA NA ROÇA" : partindo das experiências dos alunos, de fato

http://revistaescola.abril.com.br/blogs/eja/2014/07/30/infancia-na-roca-partindo-das-experiencias-dos-alunos-de-fato/
 | sala de aula
Alunos de EJA em noite de autógrafos para o lançamento do livro Infância na Roça, de autoria coletiva

Muito se fala, na EJA, em usar as experiências dos alunos para promover o aprendizado.
No entanto, sabemos o quanto é difícil realmente colocar isso em prática. Nós, professores, temos uma lista de conteúdos que pretendemos que os estudantes aprendam e é muito difícil fazê-la coincidir com as experiências e objetivos deles. Muitas vezes, nos vemos conduzindo atividades que são do nosso interesse, mas não dos alunos; quando isso acontece, na melhor das hipóteses, eles “fazem por fazer”, “fazem porque o professor pede”, mas não porque consideram importante. O resultado são aulas burocráticas, desanimadas e pouco produtivas.
Compartilho aqui uma proposta que valorizou a experiência dos alunos e conseguiu atingir objetivos de aprendizagem muitíssimo relevantes:  o trabalho de Ana Cristina Campos e Paula Takada, educadoras do Projeto Tempo Certo, em São Paulo, SP.
Ana Cristina e Paula partiram das lembranças que os alunos tinham dos brinquedos de sua infância para produzir um livro de histórias. O público-alvo desse livro seriam as crianças da creche que funciona no mesmo espaço em que a turma da EJA. Contar como a sua infância, na zona rural, transcorreu de forma diferente da desses pequenos, moradores da maior cidade do Brasil, foi uma grande motivação e os estudantes se envolveram totalmente.
Por se tratar de uma turma de alfabetização, as professoras tiveram a intenção de desenvolver habilidades de leitura e escrita durante todo o processo. Assim, os alunos leram contos de outros autores, rememoraram suas infâncias juntos em rodas de conversa, escreveram e reescreveram suas histórias. Até o título do livro foi assunto de bastante debate: “Infância na Roça”.
Um ponto que considero muito interessante nesse projeto é a desmistificação da ideia de que ser escritor é um dom, e que os bons escritores produzem sempre textos geniais logo na primeira versão. Ficou claro para os alunos que escrever é um processo trabalhoso, que requer análises, correções, revisões, reescritas, até que se chegue a um texto satisfatório.
Outro aspecto importante: a preocupação com todo o processo e não apenas com o produto. É claro que a perspectiva de fazer um livro motiva e impulsiona os alunos. Mas os professores devem ter a clareza de que o produto é uma consequência do trabalho desenvolvido e, portanto, vale a pena dar sentido para todas as etapas, não apenas para o resultado final. Ana Cristina e Paula enfatizaram bastante esse aspecto, chamando a atenção dos estudantes para os avanços e dificuldades que estavam tendo enquanto produziam o livro.
Acima de tudo, o trabalho “Infância na Roça” reforça que a memória dos alunos pode ser explorada como um grande recurso nas aulas da EJA. A variedade de experiências deles é imensa, o que tornam também imensas as possibilidades de trabalho.
Você conhece algum projeto de EJA que parta de fato da experiência dos alunos? Compartilhe conosco!


REFLEXÕES NA PLATAFORMA DO TREM:" Será que nossos cursos preparam os alunos para embarcarem sozinhos em uma estação de trem"

6 de agosto de 2014 às 15:32 | comportamento, políticas públicas

Disponível: http://revistaescola.abril.com.br/blogs/eja/2014/08/06/reflexoes-na-plataforma-do-trem/



Imagem: Vilmar Oliveira
Na semana passada, eu esperava um trem na plataforma da estação Tamanduateí, zona leste de São Paulo. Por coincidência, estava ao lado do painel que mostra o mapa do metrô e dos trens.
Aproximou-se um garoto, de seus vinte anos, mochila nas costas e cara de estudante. Ele me perguntou, muito educadamente: “Por favor, você sabe se o trem que passa aqui vai para a estação Presidente Daniel?”
Eu não costumo usar essa linha. Olhei para o rapaz com cara de dúvida e percebi que o mapa estava ao nosso lado. Procurei a estação onde estávamos no mapa e a estação que ele havia mencionado.
Agora, faça você o exercício. Procure onde estão as duas estações no mapa viário de São Paulo. Dica para você que não é de São Paulo: elas ficam na linha 10 (turquesa).
Eu não achei a estação “Presidente”, mas minha mente de professor me fez pensar que talvez a informação dele não estivesse correta e procurei algo similar. Talvez ele se referisse a “Prefeito Celso Daniel”, outro nome para a estação de Santo André. Era isso mesmo!
O garoto agradeceu e se afastou. E eu fiquei pensando…
Eu estava ao lado do mapa/esquema que continha todas as informações. Por que o garoto preferiu perguntar para mim a tentar consultar o mapa? Certamente vários de vocês, leitores, já presenciaram essa situação: mesmo com a informação por escrito, por que muitas pessoas preferem perguntar?
Ele não procurou o guichê de informações e nem um funcionário da estação. Ele perguntou a uma pessoa qualquer, que talvez nem estivesse acostumada a pegar esse trem e nem tivesse a informação (que era justamente o meu caso). Se pensarmos bem, ele correu o risco de conseguir uma informação errada em vez de garanti-la em uma fonte mais confiável, como o mapa impresso.
Mesmo assim, por que ele preferiu perguntar? Lá, na plataforma, formulei uma hipótese: talvez a pergunta do garoto tenha algo a ver com a dificuldade de leitura.
Não me pareceu que ele era recém-chegado em São Paulo e é difícil dizer se era analfabeto; acredito que não. Se imaginarmos que cursou o ensino regular, ele teria idade para ter concluído o Ensino Médio.
No entanto, sabemos que muitas pessoas com esse diploma têm letramento precário (conheça aqui os dados do INAF). Além disso, a informação disponível não estava na forma de um texto simples, mas sim de um esquema complexo (o mapa do metrô), que requer o entendimento de códigos específicos para ser compreendido. Certamente, ele foi desenhado por pessoas que têm essa compreensão para pessoas que também têm. Se você não está familiarizado, talvez tenha notado isso ao procurar as estações no mapa.
Some-se a isso que o garoto não possuía a informação completa e ainda precisava fazer essa mudança de “presidente” para “prefeito”. Para completar, a estação é pouco conhecida por esse nome (Santo André é muito mais comum), que está escrito em letras menores no mapa.
Enfim, uma tarefa relativamente complicada.
Antes que o trem chegasse, fiquei pensando na variedade de situações em que esse garoto talvez não conseguirá usar uma informação escrita: leitura de bula de remédio, de manual de instruções, informações sobre uma compra a prazo, manipulação de um caixa eletrônico de banco… Talvez ele precise sempre perguntar para alguém para conseguir a mesma informação na forma falada.
Muitas vezes, pedir informação é a melhor saída. Contudo, o que me incomoda é que para muitas pessoas essa é sempre a única saída.
Será que nossos cursos preparam os alunos para embarcarem sozinhos em uma estação de trem?