segunda-feira, 29 de setembro de 2014

SUGESTÃO DE ATIVIDADE: SAÚDE É MAIS QUE AUSÊNCIA DE DOENÇA

Em um post passado, opinei que os conteúdos de saúde deveriam ocupar mais espaço nos currículos da EJA e comentei que o Atlas do Desenvolvimento Humano poderia ser um recurso interessante para planejar aulas que abordem a saúde de um ponto de vista amplo. Em outras palavras, uma abordagem em que a saúde não seja apenas a ausência de doença, mas considerando, por exemplo, a influência de condições sociais.
Apresento aqui um exemplo de atividade que pode ser desenvolvida para que os alunos atinjam os seguintes objetivos:
  1. conhecer o conceito de mortalidade infantil;
  2. localizar e analisar dados na tabela;
  3. associar condições sociais (moradia, saneamento, educação, renda) a riscos à saúde.
Parte 1: Conhecer o conceito
A maior parte dos meus alunos são migrantes e se interessam em discutir aspectos de sua terra natal. Pensando nisso, usei o Atlas para gerar a tabela a seguir, que apresenta os índices de mortalidade infantil em 1991, 2000 e 2010 para cada uma das cidades dos alunos da classe, além das médias nacionais.
Mortalidade infantil
Nome da cidade199120002010
Cacimba de Dentro (PB)804523
Cajazeiras (PB)443317
Ipiaú (BA)774020
Ouricuri (PE)826223
Panelas (PE)816222
Passo Fundo (RS)241712
Presidente Jânio Quadros (BA)774224
Riachão do Jacuípe (BA)755127
Salvador (BA)463615
Santa Rita (PB)623521
São João do Piauí (PI)654924
São Paulo (SP)241813
Solidão (PE)787426
Tanhaçu (BA)834324
Tremedal (BA)654128
Vitória da Conquista (BA)774021
Brasil (média)453117
Em seguida, questiono os alunos sobre o que seria a “mortalidade infantil”. Muitos deles já têm uma ideia intuitiva de que o termo está associado à morte de crianças. Apresento uma definição mais formal de taxa de mortalidade infantil: número de crianças que morrem antes de completar um ano a cada mil nascidos vivos. A discussão de como é calculada essa taxa e por que ela pode ser comparada entre locais não é simples, mas para esta atividade basta que os alunos entendam que esse índice expressa o risco que as crianças têm de morrer antes de completarem um ano em cada localidade. É importante que cada aluno faça um registro dessa definição no caderno, o que pode indicar se compreenderam o conceito.
Parte 2: Localizar e analisar dados na tabela
Os alunos localizam a sua cidade natal na tabela e respondem às seguintes questões:
  1. Qual era o valor da mortalidade infantil na sua cidade em 1991? E em 2010?
  2. Esses valores estão acima ou abaixo da média do Brasil?
Espera-se que os alunos encontrem os dados de sua cidade e consigam compará-los com as médias nacionais. Essa tarefa pode parecer trivial para alguns alunos, mas não é simples para os que não têm familiaridade com tabelas. Fique atento, professor!
Parte 3: Associar condições sociais a riscos à saúde
Ao localizar os dados na tabela, os alunos rapidamente notam que os valores de 2010, em todos os casos, são menores que os de 1991. Discutimos se isso é positivo ou negativo e, em seguida, proponho outra questão:
O que você acha que mudou na sua cidade de origem nos últimos 20 anos e que poderia explicar essas mudanças na mortalidade infantil?
Neste ponto  as vivências e conhecimentos dos alunos podem enriquecer a aula. Como a maioria assistiu às mudanças ocorridas em seus municípios de origem, não faltam ideias para explicar porque morrem menos crianças hoje: surgiram novos postos de atendimento, melhorou a qualidade dos exames, aumentou o número de agentes de saúde e de médicos.
Além desses aspectos, encorajo os alunos a pensar sobre fatores não diretamente ligados à saúde, mas que podem ter alguma influência. Será que a qualidade da água melhorou? Como está sendo descartado o esgoto? E o lixo doméstico? Como eram as moradias ontem e como estão hoje?
Ou ainda: Será que uma pessoa que estudou tem mais condições de cuidar melhor da saúde? Será que o aumento da renda tem algo a ver com a mortalidade infantil? Ao refletirem sobre essas questões, os estudantes acabam percebendo que a saúde também depende das condições sociais, ou seja, da qualidade de moradia, de saneamento, de educação e de renda.
Para terminar, peço que registrem por escrito um exemplo de como a melhoria em um desses fatores poderia gerar redução na mortalidade infantil. Pela resposta dos alunos, consigo avaliar se, após essa aula, já têm uma ideia de que a qualidade da saúde de uma população está associada a outros aspectos sociais.
Professor, você vê alguma possibilidade de desdobramento desta atividade? Acha que ela pode contribuir para um entendimento mais amplo do que é saúde? Compartilhe suas ideias conosco!

Disponível: http://revistaescola.abril.com.br/blogs/eja/2014/08/27/sugestao-de-atividade-saude-e-mais-que-ausencia-de-doenca/

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