Em um post passado, opinei que os conteúdos de saúde deveriam ocupar mais espaço nos currículos da EJA e comentei que o Atlas do Desenvolvimento Humano poderia ser um recurso interessante para planejar aulas que abordem a saúde de um ponto de vista amplo. Em outras palavras, uma abordagem em que a saúde não seja apenas a ausência de doença, mas considerando, por exemplo, a influência de condições sociais.
Apresento aqui um exemplo de atividade que pode ser desenvolvida para que os alunos atinjam os seguintes objetivos:
- conhecer o conceito de mortalidade infantil;
- localizar e analisar dados na tabela;
- associar condições sociais (moradia, saneamento, educação, renda) a riscos à saúde.
Parte 1: Conhecer o conceito
A maior parte dos meus alunos são migrantes e se interessam em discutir aspectos de sua terra natal. Pensando nisso, usei o Atlas para gerar a tabela a seguir, que apresenta os índices de mortalidade infantil em 1991, 2000 e 2010 para cada uma das cidades dos alunos da classe, além das médias nacionais.
Mortalidade infantil | |||
Nome da cidade | 1991 | 2000 | 2010 |
Cacimba de Dentro (PB) | 80 | 45 | 23 |
Cajazeiras (PB) | 44 | 33 | 17 |
Ipiaú (BA) | 77 | 40 | 20 |
Ouricuri (PE) | 82 | 62 | 23 |
Panelas (PE) | 81 | 62 | 22 |
Passo Fundo (RS) | 24 | 17 | 12 |
Presidente Jânio Quadros (BA) | 77 | 42 | 24 |
Riachão do Jacuípe (BA) | 75 | 51 | 27 |
Salvador (BA) | 46 | 36 | 15 |
Santa Rita (PB) | 62 | 35 | 21 |
São João do Piauí (PI) | 65 | 49 | 24 |
São Paulo (SP) | 24 | 18 | 13 |
Solidão (PE) | 78 | 74 | 26 |
Tanhaçu (BA) | 83 | 43 | 24 |
Tremedal (BA) | 65 | 41 | 28 |
Vitória da Conquista (BA) | 77 | 40 | 21 |
Brasil (média) | 45 | 31 | 17 |
Em seguida, questiono os alunos sobre o que seria a “mortalidade infantil”. Muitos deles já têm uma ideia intuitiva de que o termo está associado à morte de crianças. Apresento uma definição mais formal de taxa de mortalidade infantil: número de crianças que morrem antes de completar um ano a cada mil nascidos vivos. A discussão de como é calculada essa taxa e por que ela pode ser comparada entre locais não é simples, mas para esta atividade basta que os alunos entendam que esse índice expressa o risco que as crianças têm de morrer antes de completarem um ano em cada localidade. É importante que cada aluno faça um registro dessa definição no caderno, o que pode indicar se compreenderam o conceito.
Parte 2: Localizar e analisar dados na tabela
Os alunos localizam a sua cidade natal na tabela e respondem às seguintes questões:
- Qual era o valor da mortalidade infantil na sua cidade em 1991? E em 2010?
- Esses valores estão acima ou abaixo da média do Brasil?
Espera-se que os alunos encontrem os dados de sua cidade e consigam compará-los com as médias nacionais. Essa tarefa pode parecer trivial para alguns alunos, mas não é simples para os que não têm familiaridade com tabelas. Fique atento, professor!
Parte 3: Associar condições sociais a riscos à saúde
Ao localizar os dados na tabela, os alunos rapidamente notam que os valores de 2010, em todos os casos, são menores que os de 1991. Discutimos se isso é positivo ou negativo e, em seguida, proponho outra questão:
O que você acha que mudou na sua cidade de origem nos últimos 20 anos e que poderia explicar essas mudanças na mortalidade infantil?
Neste ponto as vivências e conhecimentos dos alunos podem enriquecer a aula. Como a maioria assistiu às mudanças ocorridas em seus municípios de origem, não faltam ideias para explicar porque morrem menos crianças hoje: surgiram novos postos de atendimento, melhorou a qualidade dos exames, aumentou o número de agentes de saúde e de médicos.
Além desses aspectos, encorajo os alunos a pensar sobre fatores não diretamente ligados à saúde, mas que podem ter alguma influência. Será que a qualidade da água melhorou? Como está sendo descartado o esgoto? E o lixo doméstico? Como eram as moradias ontem e como estão hoje?
Ou ainda: Será que uma pessoa que estudou tem mais condições de cuidar melhor da saúde? Será que o aumento da renda tem algo a ver com a mortalidade infantil? Ao refletirem sobre essas questões, os estudantes acabam percebendo que a saúde também depende das condições sociais, ou seja, da qualidade de moradia, de saneamento, de educação e de renda.
Para terminar, peço que registrem por escrito um exemplo de como a melhoria em um desses fatores poderia gerar redução na mortalidade infantil. Pela resposta dos alunos, consigo avaliar se, após essa aula, já têm uma ideia de que a qualidade da saúde de uma população está associada a outros aspectos sociais.
Professor, você vê alguma possibilidade de desdobramento desta atividade? Acha que ela pode contribuir para um entendimento mais amplo do que é saúde? Compartilhe suas ideias conosco!
Disponível: http://revistaescola.abril.com.br/blogs/eja/2014/08/27/sugestao-de-atividade-saude-e-mais-que-ausencia-de-doenca/
Disponível: http://revistaescola.abril.com.br/blogs/eja/2014/08/27/sugestao-de-atividade-saude-e-mais-que-ausencia-de-doenca/
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